terça-feira, 30 de junho de 2009

Shorbus






Cenas de sexo explícito em filmes que não são vendidos como pornôs é algo que quando acontece acaba restringindo o público que na grande maioria das vezes conseguem olhar as cenas de sexo levado em conta o que o enredo pretende, que em muitos casos, e especificamente em Shortbus, trazem histórias que deveriam ser vistas não fosse o horror que o sexo provoca nas cabeças puritanas do século XX!. Cenas de sexo explicito e ainda por cima gay? Renegado aos circuitos fechados de festivais segmentados. Shortbus tem roteiro e direção de John Cameron Mitchell e foi lançado no Brasil na mostra Midnight Movies no Festival do Rio de 2007. Antes de qualquer coisa o filme propõe um questionamento interessante: até que ponto é necessário cenas de sexo explícitos nos filmes, é feito para chamar ou chocar o publico?

Dificilmente chegarei a uma resposta sobre essas questões. Se o espectador tiver a capacidade de assistir ao filme sem se chocar, ou mais especificamente se o espectador após as três primeiras cenas – uma masturbação acrobata (só assistindo para entender), um casal em práticas sadomasoquista e um outro casal transado em todas as posições possíveis – permanecer assistindo vai perceber ao longo da projeção que o sexo em si, o sexo explicito também pode ser belo. Ainda na primeira cena a garota que xinga e bate no parceiro a ponto de excitá-lo e fazer com que ele ejacule, jorrando o sêmen em um quadro abstrato, fixa seu olhar no quadro, na junção entre o esperma e arte abstrata: captamos daí a essência do que Shortbus pretende mostrar: a união do sexo com a arte.

O filme possui dois eixos principais, o casal gay à procura de novas experiências sexuais, em um relacionamento em que o amor está presente, mas que um dos parceiros passa por uma crise de depressão. E acompanhamos a trajetória de uma terapeuta sexual que nunca conseguiu atingir o orgasmo apesar da intensidade da primeira cena dela e do namorado. Os dois eixos se encontram no começo do filme quando o casal a procura na tentativa de discutir sobre a viabilidade das novas experiências sexuais que o casal deseja.

A historia segue com as experiências vividas pelo casal e nas tentativas da terapeuta em alcançar o tal desejado orgasmo. É difícil não se comover com a história da terapeuta, um trabalho bonito da atriz Sook-Yin Lee que se entrega de forma completa fisicamente e consegue passar de uma forma muito singela a insatisfação e tristeza da personagem. Shortbus é o nome do clube onde o sexo é vivido de todas as formas sem nenhum tipo de restrição e onde o desenrolar e o encontro dos personagens acontece.

Neste clube, em determinada cena a parceira sexual de Sofia – a dominatrix que não consegue se envolver em um relacionamento duradouro chega ao orgasmo com um objeto introduzido em Sofia, a parceira alcança facilmente o que ela tanto almeja arduamente e não consegue.

Estas duas trajetórias a do casal gay e da terapeuta contrapõem visões distintas e até opostas. No primeiro caso o sexo é visto como algo pleno, uno, prazeroso, unificador, mas não por isso James interpretado pelo ator Paul Dawson preenche sua tristeza e insatisfação com a vida, já no segundo caso o sexo é incompleto, insatisfatório e por isso também não a preenche. O que me faz refletir na insatisfação humana, na necessidade humana de sempre buscar, de sonhar e de almejar algo que impulsione a vivência da vida.
Shortbus é isso: sexo, muito sexo, em todas as variações, posições, possibilidades. E que mostra que o sexo é bonito, bonito porque é humano e é também sensível e delicado. Este é o grande mérito do filme, mas para enxergar essa beleza é preciso ultrapassar a cenas de sexo sem interjeições do tipo: “que absurdo, “esse filme é uma pouca vergonha”, se quisesse filme pornô iria à internet” e coisas do tipo. Vai ver é um filme para poucos mesmo.

Elefante


A capacidade que certos filmes possuem de despertar profundamente sentimentos que nem sabíamos que possuíamos ou que nem sabíamos que poderíamos sentir é o que de mais belo o cinema pode proporcionar. Não assisto filmes com um olhar técnico, não possuo conhecimento para tal, esta capacidade de mexer com o que sinto, com o que vejo, com o que experiencio é o que de melhor o cinema pode me proporcionar. Um bom filme é aquele que incomoda, é aquele que nos deparamos com a inexplicabilidade do ser humano, com a caoticidade do mundo e dos homens. Um bom filme é aquele em que me deparo pensando sobre ele pelas andanças na cidade, em uma viagem de ônibus, em uma aula entediante, em um comentário de um amigo e por dias, às vezes, semanas ele retorna a mente como um reflexo, como um reflexo daquilo que possuímos de humanidade.


Elephant de Gus Vant Sant é um destes filmes, acompanhamos durante quase uma hora um dia comum em uma High School americana e o acompanhamento, o encadeamento, a perseguição que a câmera faz sobre cada personagem, nos mostra o mais perfeito retrato de uma sociedade. De nenhuma outra forma poderíamos entrar e compartilhar da complexidade de um acontecimento que por mais que se tente nunca será completamente compreendido. É a garota rejeitada, é o jovem fotógrafo revelando suas fotos, é a discussão de alunos sobre a homossexualidade, é o atleta bonitão, são as amigas inseparáveis que compartilham o ato de regurgitar a comida, é o garoto que toca Bethoven, compra uma arma pela internet, invade a escola e atira em dezenas de colegas com a simplicidade de quem assiste a uma aula de biologia.

Não se deve entender Van Sant como um simplista, o que ele faz é reproduzir magistralmente uma realidade, é a incapacidade de entender por mais próximo que a câmera se encontre, por mais repetido e visto por diversos ângulos que uma cena possa ser vista, é justamente por isto que o filme do hoje consagrado diretor é excepcional. É como se ele dissesse: não é possível uma explicação, é possível apenas a constatação da realidade e de como o horror desta realidade é presente, é real.


É por isso que Elephant é tão inquietante, por isso o filme destroça, cansa o espectador apesar da projeção não ultrapassar os 70 minutos, o que Van Sant nos diz é que esta terrível realidade acontece, aconteceu e pode vir a se repetir, não existe um porquê, existe “apenas” a sua presença. Facilidade de acesso às armas, distanciamento dos pais, sociedade individualista, bullying, consumismo desenfreado, padrões de beleza inalcançáveis. Tudo isso pode contribuir para uma explicação, mas Van Sant diz: não há explicação! E isso aterroriza!

Para quê?

Dentre centenas de blogs sobre cinema pela web sentia falta de algum que não se atesse aos aspectos técnicos da sétima arte, mesmo porque não os entendo. O que me fascina no cinema é a capacidade de despertar emoções.
Portanto, crio o blog para compartilhar sensações, emoções, comportamentos, pensamentos sobre filmes que me tocaram e que de alguma forma mexeram comigo: positiva ou negativamente.
Fazer uso do melhor que a internet pode proporcionar: o compartilhamento de idéias e discussões, no caso, sobre o fascinio e o prazer que um bom filme pode proporcionar.

Vamos ver no que dá!!